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Maio, 2025
Liberdade financeira: uma necessidade estratégica
Num ecossistema empresarial marcado por incertezas, pressão competitiva e mudanças constantes, a liberdade financeira deixou de ser uma vantagem em crescimento. É hoje, uma condição estratégica para assegurar a constância, e sustentar o crescimento.
Tenho procurado acompanhar de perto a realidade financeira das empresas portuguesas e com elas tenho vindo a reconher alguns sinais de alerta. Quando ignorados, esses sinais comprometem não só a estabilidade operacional, como a visão a longo prazo da organização.
A gestão financeira continua a ser uma das maiores fragilidades estruturais no panorama empresarial português. Uma tesouraria cronicamente sob pressão é o primeiro sinal de alarme. Quando a liquidez está em constante desequilíbrio, não estamos perante um contratempo operacional, mas sim diante de um problema estrutural que mina a capacidade de executar com consistência. O Banco de Portugal tem vindo a alertar para as dificuldades acrescidas que as empresas enfrentam no serviço da dívida, sobretudo num contexto marcado por taxas de juro elevadas e um crescimento económico moderado.
A ausência de liberdade financeira tem outro impacto crítico: a incapacidade de investir com a visão certa. Quando os recursos são escassos, as decisões estratégicas como expandir equipas, adotar novas tecnologias ou entrar em novos mercados tornam-se inviáveis. O mais recente barómetro da EY e da CIP confirma que a falta de acesso a capital continua a ser um dos principais entraves à competitividade em Portugal. Esta limitação não só compromete a inovação como perpetua ciclos de estagnação.
Neste cenário, as decisões deixam de ser estratégicas e passam a ser motivadas pela urgência. Em vez de se guiarem por objetivos bem definidos ou por análises fundamentadas, as empresas operam num modo reativo, respondendo apenas ao que o dia-a-dia exige. Esta abordagem fragmentada impede a construção de uma trajetória sólida e sustentável, dificultando ainda mais a diferenciação num mercado cada vez mais saturado e incerto.
Por outro lado, a falta de controlo sobre os indicadores financeiros agrava ainda mais esta realidade. Sem uma leitura clara sobre margens, estrutura de custos, compromissos fiscais ou níveis de rentabilidade, torna-se impossível antecipar riscos, ajustar estratégias ou projetar crescimento. A ausência de visibilidade financeira compromete a qualidade das decisões e penaliza o desempenho global da organização.
É neste contexto que a gestão financeira e o acesso a apoio especializado se tornam não apenas recomendáveis, mas imperativos. Porque crescer exige mais do que vontade — exige estrutura. Poder tomar decisões com base em dados, e não sob pressão, é assegurar o alinhamento entre estratégia e execução.
Acredito que esta liberdade deve estar ao alcance de todas as empresas — independentemente da sua dimensão ou setor. Com os processos certos, ferramentas adequadas e o apoio especializado, é possível transformar um negócio vulnerável numa organização resistente e preparada para o futuro.
Maria João de Figueiredo
CEO da CIPHRA